segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Mea culpa


Nota do diretor de redação do "Mateus: O Espetacularizador"

Em 2010, respaldado pelo princípio da liberdade editorial e de expressão então vigente no Brasil, dei início ao site de notícias fictícias "Mateus: O Espetacularizador", com o slogan: "Uma notícia contada mil vezes vira uma verdade". 

Ao lado de sites como "Sensacionalista" e "The Piauí Herald", fizemos parte de uma grande revolução no humor jornalístico brasileiro, ao inventar notícias com base na realidade. Muitas vezes, elas pareciam mais reais do que a própria realidade. 

O humor, mais do que o riso, tem por objetivo provocar a reflexão na sociedade. Ao criar uma notícia absurda com um personagem verdadeiro, o ato estimulava a leitura crítica de determinado aspecto então em destaque naqueles dias. 

Mas assim como o ato de inventar notícias podia ser usado para esse lado benéfico, nós, da grande imprensa alternativa humorística, demoramos a perceber que esse gênero que inauguramos poderia ser usado de forma nefasta no que hoje chamamos de fake news --a notícia criada com o propósito de desinformar para obter determinado objetivo político, econômico ou social.  

Naquele início dos anos 2010, ao verificar o sucesso do nosso formato, deveríamos ter denunciado, investigado, estudado qualquer tipo de comentário nas nossas matérias no qual o comentarista acreditava no conteúdo do que havia sido publicado. Isso era muito frequente, e muito grave. 

Hoje eu seria, em vez de um diretor de redação frustrado com o mal que criou, o maior especialista em fake news do mundo. 

À história, aos leitores, e ao jornalismo, deixo aqui meu mea culpa. Meu erro foi crer que as pessoas sabiam distinguir uma verdade de uma mentira e confiar em fontes de informação. 

Mateus, O Espetacularizador, 15 de outubro de 2018. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário